Um dia vou saber escrever, descrever, com a maciez suficiente, as palavras doces que expliquem ao mundo, os verdadeiros sentidos expressos nas curvas da tua pele. Até lá terei de contentar-me a deduzir das sombras, os vultos e os contornos que fazem da beleza nua do teu corpo, uma estatueta delicada e frágil, contudo, intensa e poderosa. Embevecido contemplo-te, qual Deusa sentada no púlpito do meu corpo, aprecio o detalhe, o fôlego que me falta, como se fosse eu acabar-me ali, perante ti, tamanha é a emoção de ter-te.
Depois, deixamos o silêncio invadir-nos, as respirações ofegantes, distendem-se em calmos suspiros e os corpos despidos aconchegam-se no abraço prometido, na dissolvência dos fluidos já por nós derramados em espíritos amados e envolvidos no âmago dum leito perdido num lugar escondido de nós próprios.
É assim que te desenho na penumbra do quarto, enquanto espero longas horas acordado, pela alvorada que há-de levantar-me do nada, frio e escuro deste confuso tormento onde todos os dias me sento e te escrevo.



1 comentário:

  1. Por vezes não se encontram as palavras que tanto desejaríamos encontrar para descrever certas emoções, mas o importante mesmo é sentir-las e ter a capacidade de as fazer igualmente sentir...

    Doces sonhos, um abraço...

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