Hoje não sinto a presença do teu corpo nos domínios íntimos do meu, estás ausente, distante, na fria realidade que sem qualquer necessidade, de mim te trás afastada. Não sou consoante no teu texto, não sou vocábulo certo no teu livro, sou verbo errante que apenas preenche o vazio distante de um corpo em desejo. Jamais serei o teu toque, o arrepio da tua pele, o beijo pleno de mel, porque realmente sou tão só trovador, poeta oco, escritor, que, nas ausências de outro corpo, se veste de vento e sopra trovas de amor.
Não existo quando a capa se fecha sobre o livro, não sou voz quando o ruído se enfeita de festas e convívios, apenas me escutas no silêncio vazio do teu quarto, quando todos saem e te sentes terrivelmente só. Não, não faço falta constantemente, como se fosse ar que teu corpo preenche, sou apenas um livro vivo, que tiras da prateleira quando o tédio se faz contigo mais exigente. Lamento, ser apenas palavras ao vento, ser para ti objecto, companhia que preenche a tua vida vazia. O tempo mostrar-te-á outros caminhos, outros livros, outros sentidos, e, deambularás, na sede de esquecer a tua sina, de letra em letra, de estrofe em estrofe, nos versos que declamas ao vento, procurando nele, afogar o teu lamento. Eu, serei apenas mais um livro na estante das tuas memórias.

3 comentários:

  1. Revejo-me em cada palavra. Tristemente, amei. Vou levar. Beijo

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  2. ou o eterno livro de cabeceira.
    Quando há o encontro do eterno amante, a ausência traz o sentir do fim.
    E aí se fica assim um ser nada, uma desistência.
    No final, é só uma ausência e, tudo volta a ser como sempre foi.

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  3. Gosto muito de ti e gosto muito do que escreves.

    Beijos

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