Há no ruído que contorna o meu corpo, uma amálgama de sons que tentam distrair-me, abstrair-me e fazer-me perder da essência que delineia o perfil do teu sorriso. Mas é impossível desviar o olhar, sequer respirar mais que um breve gole de ar, porque não quero que os meus olhos pisquem, não quero que a imagem trema, e que a projecção perfeita dos teus lábios na minha retina seja abalada pelo colapso dum grão de poeira, ou sequer de vidas inteiras. Neste momento não estou para o mundo, mesmo que qualquer avalanche me queira soterrar, um sopro há-de bastar, para desviar qualquer catástrofe que queira fazer-me mover um músculo que seja. É com fervor que te adoro, como quem se entrega à fé do teu semblante, como peregrino errante que vagueia pelo deserto, sabendo que a qualquer momento descerás sobre mim como um sacrossanto anjo para me abraçar, para me confortar e me levar para o paraíso prometido. Hás-de salvar-me a alma, beber-me o corpo, como se fosse feito de água, e, guardar-me-ás no teu âmago, numa noite de tormenta, em que nem que o mundo desapareça, algo nos afastará. Depois desse instante, nada mais poderá existir, que tu e eu, e o nosso porvir.



1 comentário:

  1. "guardar-me-ás no teu âmago, numa noite de tormenta, em que nem que o mundo desapareça, algo nos afastará." Profundamente...

    Perante a descoberta de cada dia da Grandeza dos textos, nada mais encontro a dizer.

    Um abraço e um sorriso

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