É lânguido o olhar que absorve a luminosidade, como quem se delicia com cada detalhe, como quem sabe que ângulo a luz vai cortar no arco que desenha sobre a tranquilidade do corpo adormecido no orvalho da manhã. Diria que não existirá poesia se quem a escreve não tiver um momento de observação, sobre este despontar de claridade, sobre o horizonte desnudo de um corpo de mulher. De que se alimenta o poeta? Senão da sedução das palavras que descrevem com mestria um preciso instante que ofusca a sua sensibilidade e o deixa no desespero de encontrar nas letras a capacidade de construir a imagem que vislumbra com a frase, a metáfora e a intensidade com que desperta esta paixão adormecida.
Por vezes quedo-me paralisado, tentando encontrar-me, perante tamanha beleza, diante este jardim de perplexidade que é o teu corpo despido. O meu queixo caído debate-se com a gravidade para absorver a imensidão da paisagem que perante mim se estende. Chego a clamar por Deus, criador desta obra de arte, convencendo-me de quão abençoado sou, por ter o privilégio de contemplar, no silêncio desta manhã, o teu delicado acordar.



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