Teu corpo é o meu livro, tua pele, papel onde as letras deposito. Este é o escrito, o rito, o momento em que em ti me invento. Neste altar recito, cada letra deste teu livro, serás tu o meu mito? No silêncio, sinto resvalar a tinta, sinto teu corpo delirar ao tua pele tocar. Não há folhas, não há escolhas, apenas a vontade de em ti mergulhar. É teu corpo inspiração, voo rasante que executo com as minhas mãos, nas cálidas praias da tua pele, que em fogo e mel este livro vêm adornar. Quando as palavras terminarem, serei eu a capa que te cobre, o perfeito instinto que te tome, numa leitura delicada de cada detalhe. Nos meandros deste romance, somos amado e amante, personagens da mesma história, reflexos da nossa memória. 

Tu sabes que não sou escritor, que apenas te dedico em letras o meu amor. Sabes também que não sou amante, que apenas vivo em ti, a todo o instante. E no fogo da nossa paixão é a tinta com que te escrevo, com que desenho teu corpo ausente. Sente, sente a minha mão, os meus dedos que em ti são loucura, emoção.